ATA DA OCTOGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUINTA LEGISLATURA, EM 16-9-2010.

 


Aos dezesseis dias do mês de setembro do ano de dois mil e dez, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas e seis minutos, foi realizada a segunda chamada, respondida pelos vereadores Bernardino Vendruscolo, DJ Cassiá, Dr. Thiago Duarte, Engenheiro Comassetto, Haroldo de Souza, João Antonio Dib, João Carlos Nedel, Nelcir Tessaro, Nilo Santos, Paulinho Rubem Berta, Pedro Ruas e Toni Proença. Constatada a existência de quórum, o senhor Presidente declarou abertos os trabalhos. Ainda, durante a Sessão, compareceram os vereadores Airto Ferronato, Aldacir José Oliboni, Beto Moesch, Carlos Todeschini, Dr. Raul, Elias Vidal, Fernanda Melchionna, João Bosco Vaz, Juliana Brizola, Luiz Braz, Maria Celeste, Mario Manfro, Paulo Marques, Reginaldo Pujol, Sofia Cavedon, Tarciso Flecha Negra e Waldir Canal. Do EXPEDIENTE, constaram os Comunicados nos 66335, 66336, 66337, 66338, 66339, 66340, 66341 e 66342/10, do senhor Daniel Silva Balaban, Presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE. A seguir, o senhor Presidente concedeu a palavra, em TRIBUNA POPULAR, à senhora Jacqueline Terezinha Urroz Sanchotene, Coordenadora do Movimento Viva Gasômetro, que apresentou pleitos da entidade representada por Sua Senhoria. Em continuidade, nos termos do artigo 206 do Regimento, os vereadores Pedro Ruas, Toni Proença, Reginaldo Pujol, Nilo Santos, Airto Ferronato, Sofia Cavedon, Engenheiro Comassetto, este pela oposição, João Antonio Dib e Dr. Raul manifestaram-se acerca do assunto tratado durante a Tribuna Popular. Após, o senhor Presidente concedeu a palavra, para considerações finais acerca do assunto em debate, à senhora Jacqueline Terezinha Urroz Sanchotene. Em prosseguimento, foi iniciado o período de COMUNICAÇÕES, hoje destinado, nos termos do artigo 180, § 4º, a reflexão sobre a cultura no Estado do Rio Grande do Sul. Compuseram a Mesa o vereador Nelcir Tessaro, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, e o senhor Pedro José Schwengber, Diretor-Executivo do Instituto Escola do Chimarrão. A seguir, o senhor Presidente concedeu a palavra, nos termos do artigo 180, § 4º, inciso I, ao senhor Pedro José Schwengber. Em COMUNICAÇÕES, nos termos do artigo 180, § 4º, inciso III, pronunciaram-se os vereadores Reginaldo Pujol, Aldacir José Oliboni e Engenheiro Comassetto e a vereadora Sofia Cavedon. Em continuidade, o senhor Presidente concedeu a palavra, para considerações finais sobre o assunto em debate, ao senhor Pedro José Schwengber. Às quinze horas e dezessete minutos, constatada a inexistência de quórum, em verificação solicitada pelo vereador João Bosco Vaz, o senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os senhores vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo vereador Nelcir Tessaro e secretariados pelo vereador Bernardino Vendruscolo. Do que foi lavrada a presente Ata, que, após distribuída e aprovada, será assinada pelos senhores 1º Secretário e Presidente.

 


O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Passamos à

 

TRIBUNA POPULAR

 

A Srª Jacqueline Terezinha Urroz Sanchotene, representante do Movimento Viva Gasômetro, está com a palavra, pelo tempo regimental de 10 minutos, para tratar de novos pleitos do Movimento.

 

A SRA. JACQUELINE TEREZINHA URROZ SANCHOTENE: Boa-tarde a todos os Vereadores e Vereadoras. (Lê.): “Estão criados o Parque e o Largo do Gasômetro. Com a sanção da Revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre por S. Exª o Prefeito Municipal José Fortunati, no último dia 22 de julho, o Parque e o Largo do Gasômetro foram criados. Queremos agradecer a S. Exª o Prefeito Municipal José Fortunati e aos 36 Vereadores e Vereadoras desta Casa que aprovaram as então Emendas nºs 187 e 188, por unanimidade. Um agradecimento especial ao Ver. Engenheiro Carlos Comassetto, que apresentou as Emendas em nome do Movimento Viva Gasômetro. Continuaremos lutando, nesta Casa e em outros Fóruns, pela efetiva criação do Parque e do Largo do Gasômetro.

“A criação do Largo Cultural e do Parque Gasômetro estão ‘abrigadas’ na RPDDUA, no art. 154, respectivamente nos Incisos XIII e XXI; ambos serão regidos por Lei Complementar.

“O Largo Cultural do Gasômetro terá doze meses contados da vigência desta Lei Complementar para sua efetiva criação. Nesse caso, queremos fazer um apelo às senhoras e aos senhores Vereadores para que, além do aumento das calçadas, previsto, sejam também enterrados os fios e cabos de eletricidade e de telefonia que tanto enfeiam as duas quadras da extensão da Rua General Salustiano.

“Gostaríamos também que, no caso do Largo Cultural do Gasômetro, fossem recuperadas seis fachadas de casas antigas: três em cada uma das quadras da Rua General Salustiano. Estaremos, assim, resgatando o aspecto histórico do local onde nasceu nossa Cidade.

“Quanto à criação do Parque do Gasômetro (inciso XXI), teremos 18 meses contados da data da vigência da Lei Complementar específica para a instituição do Corredor Parque do Gasômetro. Neste caso, queremos sugerir que a extensão mínima que tenha o Parque do Gasômetro seja do início da Praça Brigadeiro Sampaio, que fica na Av. Mauá, até o final da Praça Júlio Mesquita, passando pela frente da Usina, indo até o início do local onde as pessoas fazem as suas caminhadas, os seus exercícios.

“Queremos aqui propor uma ousadia, sem prejuízo, é claro, da conquista já obtida. Por que não já, nessa ocasião, rebaixar a Av. Mauá desde o pórtico do Cais Mauá, imediatamente após o término do Trensurb? Sabemos que é uma grande ousadia a nossa proposta, mas também sabemos que dificilmente teremos um momento tão nobre para efetivarmos grandes obras, quanto junção proporcionada pelos eventos da Copa de 2014 e a execução do Projeto Cais Mauá.

“Quanto ao Projeto Cais Mauá, continuaremos lutando para que o prédio previsto, imediatamente ao lado da Usina, não seja construído. Além desse item, preocupa-nos o adensamento previsto para este projeto, pois o mesmo acarretará a circulação de mais cinco mil carros no Centro Histórico.

“Temos sugestões para melhorar o trânsito no Centro Histórico e também nas demais áreas de nossa Cidade. O carsharing é um deles. O carsharing é a aquisição de carros por associações de bairros e condomínios que compram pequenas frotas e disponibilizam aos associados. As senhoras e os senhores Vereadores já pensaram em um empreendimento imobiliário sendo lançado com esse sistema? Nossa outra sugestão é o uso das bicicletas como meio de transporte. Sabemos que, nesta Casa, temos Vereadoras e Vereadores comprometidos com esta causa, entre eles se destaca o Ver. Beto Moesch. Gostaríamos aqui de lembrar as experiências de bicicletas públicas em Paris e também nas Américas, respectivamente nas cidades do México e Bogotá, na Colômbia.

“Continuaremos lutando também pelo tombamento da Usina de Gás Carbonado, a verdadeira Usina do Gasômetro, localizada na frente desta Casa, como apontamos em nossa fala, nesta tribuna, no dia 14 de junho.

“Vemos com grande simpatia a volta do Projeto do Bonde Histórico, Projeto da Secretaria de Planejamento do Município.

“Queremos mais uma vez agradecer a cedência deste importante espaço.

Um forte e fraterno abraço a todos.”

 

(Não revisado pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Convidamos a senhora Jacqueline a fazer parte da Mesa.

O Ver. Pedro Ruas está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente, quero cumprimentar a Jacqueline Sanchotene. Nós nos conhecemos na luta de preservação da orla. O trabalho é admirável, Jacqueline, e trazes, agora, a marca de vitórias, parciais ainda, mas vitórias da tua luta, dos teus companheiros do mesmo Movimento. Eu tenho certeza de que o início do Parque e do Largo do Gasômetro, onde foi destacada a presença de Vereadores, particularmente do Ver. Comassetto, e todos nós, de alguma maneira temos simpatia pela causa, e outros, ainda, simpatia e uma luta verdadeira.

Então, eu quero te cumprimentar e dizer que a Bancada do PSOL, em meu nome e em nome da Verª Fernanda Melchionna, estará sempre à disposição dessa causa e que a luta pela preservação da orla, naquilo em que tu participaste, continua, e ela inclui, por óbvio, estamos juntos em toda a questão do Largo e Parque do Gasômetro. Um abraço forte, e conte com a gente.

 

(Não revisado pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Toni Proença está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. TONI PROENÇA: Sr. Presidente; Srs. Vereadores, Sras Vereadoras, nossa grande líder, ativista e militante, principalmente do Parque do Gasômetro e entorno, Jacqueline Sanchotene, é assim mesmo, Jacqueline; após a gente conquistar o sucesso numa luta, a gente já começa outra, justamente para manter essa tua atenção e esse teu ativismo.

Parabéns pela tua luta, tu, que lideraste esse Movimento, principalmente o Movimento Viva Gasômetro, para conseguir, dentro do Plano Diretor, as Emendas que contemplassem a execução do Parque do Gasômetro - agora começa uma nova luta.

Parabéns pela tenacidade! E conte conosco, na Câmara.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, na tese, eu quero me solidarizar com os demais companheiros e colegas que já se manifestaram. Evidentemente, eu tenho conversado muito com a Jacque, ela sabe da minha opinião. Eu acho que nem todos os caminhos são para todos os caminhantes, e, muitas vezes, são variadas as formas pelas quais a gente pode encontrar objetivos.

Eu quero cumprimentá-la pela maneira inteligente e persistente com que ela tem trabalhado pelo seu ponto de vista, sabendo que, muitas vezes, na busca do ótimo, a gente perde o bom, e, com muita frequência, a gente tem que festejar o bom como sendo o melhor resultado que se pode obter em algumas circunstâncias. Meus cumprimentos, Jacque. Continua na luta, porque muitas coisas boas vão acontecer e serão em tal número, que elas ficarão ótimas.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Nilo Santos está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. NILO SANTOS: Quero parabenizar, Sr. Presidente, a Jacqueline, pelas conquistas, e colocar a Bancada do Partido Trabalhista Brasileiro à disposição para o que for necessário nessa luta. Parabéns mais uma vez!

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Airto Ferronato está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

O SR. AIRTO FERRONATO: Em meu nome e em nome da Bancada, o PSB, quero fazer o registro de que a Jacqueline, desde que a conheço, vive envolvida com a luta dessa área nobre e importante para a cidade de Porto Alegre. Essa luta também tem relevância, porque é a partir dela que as conquistas vão chegando. E essas conquistas são um histórico de administrações, e isso é positivo para a nossa Cidade. Então, queremos nos colocar ao teu lado no sentido de contribuir nessa empreitada, que é positiva para Porto Alegre.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): A Verª Sofia Cavedon está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

A SRA. SOFIA CAVEDON: Sr. Presidente, eu quero, em nome da Bancada do PT, cumprimentar a Jacqueline. Nós queremos reconhecer em ti uma luta que não é só de propósitos teus, que não é uma luta que beneficia a vizinha e o lugar onde tu moras. Na verdade, toda a cidade de Porto Alegre está sendo beneficiada por uma luta constante, aguerrida, sistemática, persistente que tu diriges, que tu lideras.

No final de semana passado, eu estava na Usina do Gasômetro, e eram turbas - eu já disse isso aqui na tribuna -, era uma massa de gente procurando aquele espaço, ali e no Parque Marinha; era muita gente, de as pessoas se esbarrarem umas nas outras para ir para beira do Guaíba. Então, nós sabemos que aquilo é patrimônio de todos os cidadãos de Porto Alegre e visitantes, e precisa melhorar. A tua luta do Parque tem que seguir, agora, sendo implementada, e nós temos pleno acordo no que se refere ao fato de que não cabe prédio ao lado da Usina do Gasômetro. Na verdade, ali nós precisamos de mais espaços livres, porque é um espaço de fácil acesso para toda a Cidade. Então, conta com a Bancada do PT, com certeza, para que aquele lugar se torne cada vez melhor para todos nós. Parabéns pela tua luta.

 

(Não revisado pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Engenheiro Comassetto está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. ENGENHEIRO COMASSETTO: Muito obrigado, Sr. Presidente. Cumprimentando novamente a Srª Jacqueline Sanchotene, quero dizer que tivemos o prazer de trabalhar em conjunto com o Movimento Viva Gasômetro na revisão do Plano Diretor, e graças ao entendimento de todos os colegas, Vereadores e Vereadoras, e do Sr. Prefeito, hoje já podemos dizer que fazem parte da cidade de Porto Alegre, do Plano Diretor, as propostas ali construídas, ou seja, instituímos o Parque Usina do Gasômetro e, ao mesmo tempo, o espaço cultural do Gasômetro. Aquele espaço, sem dúvida nenhuma, junto à revitalização do Cais Mauá, vai dar uma nova identidade ao Centro de Porto Alegre e a esse nosso patrimônio histórico, que é o Gasômetro. Portanto, Jacqueline, meus parabéns, continue o trabalho e conte sempre conosco.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. João Antonio Dib está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Presidente Nelcir Tessaro, minha cara Jacqueline Sanchotene, eu quero dizer que liderança é algo que se conquista, e se conquista aplaudindo o certo e tentando ajudar a consertar o errado. O teu pronunciamento diz da tua personalidade. Meus cumprimentos em nome da minha Bancada, e continua assim, porque vais servir à Cidade. Saúde e PAZ!

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Dr. Raul está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.

 

O SR. DR. RAUL: Presidente Tessaro, em nome da nossa Bancada do PMDB, também quero cumprimentar a Jacqueline e reconhecer o esforço e o trabalho do Movimento Viva Gasômetro, sempre na luta pelas melhores causas, pelo meio ambiente, por uma melhor qualidade de vida para Porto Alegre.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): A Srª Jacqueline está com a palavra para suas considerações finais.

 

A SRA. JACQUELINE TEREZINHA URROZ SANCHOTENE: Eu quero agradecer muito a todos os Vereadores e Vereadoras, porque, para mim, ainda é muito difícil vir falar aqui, mas nós empreendemos esta luta com muita honestidade no coração e com o intuito de sempre tornar a Cidade melhor para todas as pessoas, não somente para as do entorno.

Então, eu agradeço, e estou muito emocionada. Obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisado pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

Hoje, o tema específico é a reflexão sobre a cultura no Estado do Rio Grande do Sul, o resgate de hábitos considerados bens patrimoniais dos gaúchos, cadeia produtiva e valorização simbólica de produtos cultivados no Rio Grande do Sul.

O palestrante, Sr. Pedro J. Schwengber, está com a palavra.

 

O SR. PEDRO J. SCHWENGBER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras Vereadoras, assistência, quero agradecer o convite feito à Escola do Chimarrão para estarmos nesta Câmara de Vereadores, trazendo a vocês um pouco do nosso trabalho, um pouco da nossa cultura, que eu diria ser milenar. Quero fazer um agradecimento em especial à Escola do Legislativo, na pessoa da Diretora Débora, da Giovana e da Rose.

Nós somos da Escola do Chimarrão da Cidade de Venâncio Aires, somos uma ONG. A Escola surgiu em 1998 como um projeto cultural de uma indústria de erva-mate, em Venâncio Aires, a Indústria Rainha dos Pampas. Em 2004, ela foi transformada em uma ONG, recebendo personalidade jurídica própria, e, ao longo desse tempo, temos percorrido os mais diversos recantos deste Estado, deste País, e, inclusive a alguns países da Europa, tivemos oportunidade de levar essa nossa cultura, levar o chimarrão.

Nós temos como meta da Escola fazer o resgate da cultura da erva-mate, ou seja, os quinhentos anos do chimarrão, porque, antes de existir a palavra “Brasil”, já se tomava chimarrão nestas terras. Foram os índios Guaranis que nos ensinaram o que é a planta da erva-mate; foram os índios Guaranis que nos ensinaram a preparar a erva-mate, e foram os índios também que nos ensinaram a fazer o chimarrão. Nós produzimos a erva-mate hoje da forma como os índios produziam; apenas agilizamos o processo de fabricação da erva-mate.

A nossa preocupação é com relação a esse aspecto cultural. Nesses quinhentos anos, descobriu-se as propriedades medicinais da erva-mate, que são muitas. Inclusive, nós temos, na nossa Escola, um médico, Dr. Oly Pedrinho Schwingel, que faz parte da diretoria, é medico pesquisador e tem vários estudos. Então, chegamos à conclusão de que, se o chimarrão já tem quinhentos anos, é sintoma de coisa boa. Mas, se é coisa boa, por que o chimarrão só é tomado no Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, na América do Sul? Por que o Brasil e o mundo não tomam chimarrão? Uma das conclusões a que se chega é que o gaúcho não conhece o chimarrão nosso de cada dia; toma chimarrão por hábito e por tradição.

Outro dia, estávamos em Bento Gonçalves como convidados, nos Jogos Nacionais do Sesi, com a participação de delegações de todos os Estados brasileiros, e o Sesi divulgou muito a presença da Escola do Chimarrão. Num determinado momento, um guia trouxe até nós um grupo de vinte e seis amazonenses e disse: “Gaúcho, estes amazonenses de Manaus vieram aqui e querem aprender sobre o chimarrão.” Eu perguntei a ele: “Quanto tempo nós temos?” Ele respondeu: “Vinte e dois minutos”. Então, fica muito difícil, em vinte e dois minutos, mostrar uma história de quinhentos anos, convencer alguém a tomar essa coisa amarga e quente, não é? E eu pensei que teria de dizer alguma coisa impactante. Isso faz uns três meses, mais ou menos, e, depois disso, eu tenho repetido isso todos os dias; vou repetir para vocês textualmente: “Vocês vêm de um lugar considerado o pulmão do mundo, cobiçado por todos os laboratórios do mundo. E todos os grandes laboratórios do mundo já têm o pé na Amazônia, por causa da rica flora que vocês têm. Porém, nessa imensidão de floresta, vocês não têm nenhuma árvore que equivalha à erva-mate, porque a erva-mate só dá no Paralelo 21, que pega uma parte do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Argentina.”

Mas quem diz isso não é a Escola do Chimarrão e não é o Rio Grande do Sul, mas o Instituto Pasteur, da França, o Instituto mais renomado do mundo, que, em 1964, já chegou à conclusão de que não havia planta no mundo que se igualasse à planta da erva-mate pelos seus valores nutricionais.

Vejam só, quem mais estuda a erva-mate no mundo são os franceses, e, até há poucos dias, nas nossas palestras, nós falávamos dos franceses, dos Estados Unidos, do Japão, da Venezuela, da Suíça, enfim, não falávamos do Brasil. Graças a Deus, agora nós já temos algumas pesquisas aqui no Brasil, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A pesquisa mais recente é do Instituto de Cardiologia, que está fazendo experimento em humanos com erva-mate e levou esses experimentos, essas pesquisas, ao Congresso de Cardiologia ocorrido há mais ou menos trinta dias, em Gramado. É a segunda vez que o chimarrão entra em Congresso de Cardiologia. E eu tenho certeza de que, um dia, os médicos vão, nos seus receituários, recomendar chimarrão para as pessoas.

Ontem, eu tive um exemplo disso. Nós estamos desenvolvendo um trabalho numa loja aqui em Porto Alegre, e o gerente da loja disse: “Ah, que bom que vocês vieram, porque o médico mandou eu tomar chimarrão”. Por que o Brasil e o mundo não tomam chimarrão? É interessante. Vejam bem, eu falei que o chimarrão, a erva-mate, tem mais de quinhentos anos. O café tem menos de trezentos anos, e o mundo toma café. A segunda commodity mais negociada do mundo é o café - só perdendo para o petróleo -, e tem menos de trezentos anos. O chimarrão tem mais de quinhentos anos, e o mundo não toma chimarrão, o mundo toma café. O que está faltando? Café é melhor do que erva-mate? Tem mais propriedades? É mais saboroso? Não, eles tiveram mais marketing, mais inteligência, mais feeling, porque a erva-mate, gente, é uma dádiva. Eu falava que os franceses, em 1964, disseram isto, que não havia planta no mundo que se igualasse a ela; consideraram-na a “árvore da vida”. O Instituto Pasteur e a sociedade científica de Paris consideram a erva-mate como a árvore da vida, porque a erva-mate contém praticamente todas as vitaminas necessárias ao nosso organismo: tem vitamina A, B1, B2, B6, C e Z; além disso, tem sais minerais como ferro, fósforo, potássio, cálcio e manganês. Eles diziam, naquela época, em 1964, que uma pessoa poderia se alimentar, por um longo período, só com erva-mate. Impressiona, não impressiona? Mas nós não sabemos isso.

Nós sabemos que vinho faz bem para a saúde e que o gaúcho toma chimarrão; isso nós sabemos. Por que o vinho faz bem para a saúde? Porque tem antioxidantes, os flavonoides, que combatem os radicais livres. Há poucos dias, eu não sabia que era isto: flavonoides, a palavra da moda. Mas, vejam bem, uma ou duas taças de vinho ao dia faz bem à saúde, mas, depois, começa o prejuízo, por causa do álcool.

Foi descoberto, nos Estados Unidos, na Universidade de Touro, da Califórnia, que a erva-mate também tem flavonoides, só que tem um detalhe e, a meu ver, um detalhe estarrecedor. Outro dia, minha irmã disse: “Eu te assisti na TV, achei boa a tua entrevista, só que tu erraste lá, usaste a palavra ‘estarrecedor’, e estarrecedor é assustador”. Eu disse: “Não, é isso mesmo que eu queria dizer, porque é assustador saber que os antioxidantes da erva-mate têm o dobro de potência do vinho, que é tão propalado por fazer bem à saúde”. Se perguntarmos a uma pessoa: “Tu tomas chimarrão?” “Tomo.” “Por quê?” “Porque é bom, porque eu gosto, aprendi com meus pais, com meus avós, tomo com meus amigos, gosto do convívio.” Mas não sabe dos benefícios no seu todo. Até pode conhecer a parte cultural, a parte social, essa magia da integração, mas não sabe dos benefícios em si.

Em 2005, os franceses descobriram uma medicação para o Mal de Parkinson e para o Mal de Alzheimer. Aliás, os franceses são os que mais estudam, e o nome científico da erva-mate, ilex paraguariensis, foi dado por Auguste Saint-Hilaire, um francês, em 1820; em 1964, essas pesquisas; em 2005, uma medicação para o Mal de Parkinson e o Mal de Alzheimer, cujo princípio ativo é a flor da erva-mate. A maioria dos remédios contra asma e bronquite tem como princípio ativo a erva-mate.

O chá verde é o chá mais consumido do mundo; princípio ativo: flavonoides; foi descoberto nos Estados Unidos também. Se compararmos o chá verde à erva-mate, os antioxidantes da erva-mate são três vezes - 300% - mais potentes do que os do chá verde. Vejam bem, a erva-mate não tem contraindicação. O chimarrão pode ser tomado todos os dias e o dia todo, não há contraindicação. “O médico me proibiu de tomar chimarrão!”, a gente costuma dizer: troca de médico. O cara com gastrite pode tomar chimarrão? Pode, só não deve tomar tão quente, não deve tomar os primeiros e não deve tomar em jejum.

E, por falar em quente, vou falar sobre esta aqui (Mostra objeto.). É uma bomba de taquara, com furos, que os índios usavam, chamada de tacuapi. Só para vocês terem uma ideia, essas bombas, com este bojo, só existem de 1900 para cá. O nosso embaixador Assis Brasil fez uma encomenda para um artesão de São Borja, que criou esse tipo de bomba, pois, antes, ela era de metal, reta como essa dos índios, e também furada.

Com relação ao chimarrão em si, o aspecto social é também muito importante. Olhem a importância do chimarrão para o gaúcho! Imaginem o quanto o chimarrão poderia ser importante para o Brasil e para o mundo. Nós temos esse hábito do chimarrão: “Vamos matear? Passa lá em casa, vamos tomar um chimarrão.”, mas a gente, muitas vezes, não dá o devido valor para ele, e para isso é que existe a Escola do Chimarrão. Estamos fazendo um “trabalho de formiga”, um trabalho quase que solitário, mas o estamos levando ao mundo, estamos levando a outras regiões, e o meu sonho é ensinar as pessoas de Venâncio Aires, capital nacional do chimarrão, essa cultura do chimarrão, a importância do chimarrão. Há uma coisa que eu queria registrar também, que é o câncer de garganta. O Rio Grande do Sul tem o maior índice de câncer de garganta do Brasil. “Ah! Porque lá tomam chimarrão!” Eu fico brabo toda vez que eu escuto isso. Médicos dizendo “suspeita-se que...”

Vou contar o seguinte para vocês: Venâncio Aires, capital nacional do chimarrão, maior produtor brasileiro de fumo. Dizem que o Rio Grande do Sul tem o maior índice de câncer de garganta, mas se esquecem de dizer que está, no Rio Grande do Sul, o maior índice de fumantes do Brasil; que está, no Rio Grande do Sul, o maior consumo de bebida alcoólica do Brasil também.

Eu conheço três casos de câncer de garganta na minha Cidade. Um, bastante triste para mim, porque um irmão mais novo faleceu com câncer de garganta. Ele tomava chimarrão, fumava - fumou uma hora antes de morrer - e era alcoólatra. Outro amigo meu também faleceu de câncer de garganta: ele tomava chimarrão, fumava e era alcoólatra. E um outro amigo meu que, há duas semanas faleceu, não tomava chimarrão, era fumante e era alcoólatra.

Foi descoberto, na Alemanha, na Universidade de Berlim, que a erva-mate é anticancerígena, a erva-mate é um rejuvenescedor celular. Agora, ficam culpando o coitado do chimarrão por causa do câncer de garganta. “Ah! Tomam água muito quente!” Eu não conheço ninguém que tome água muito quente. Estamos ainda num processo muito arcaico, de “quando a chaleira chia”. Recomendamos a água à temperatura de 70 graus, o máximo de 75 graus - o Vereador, outra vez, fez um projeto, nos consultou, e passamos essas informações, mas recomendamos o uso do termômetro.

Quantas vezes nós tomamos um chimarrão e gostamos, é bom? Outra vez, nós tomamos e não gostamos. Por quê? Pode ser a água. Nós nos preocupamos com a erva. É interessante, a erva deve ser cuidada; deve-se comprar a erva sempre pelo prazo de fabricação, nunca pelo prazo de validade, porque, pela Anvisa, dura dois anos, e a nossa cultura é de erva nova, diferente da Argentina e do Uruguai, que gostam da erva estacionada - para nós, erva velha. Então, a água é muito importante: a qualidade, a temperatura. Se não tivermos o termômetro, que custa cinco, dez reais - eu até tinha pedido para trazer -, existe uma garrafa elétrica que tem regulador de calor e tem termostato, regula a temperatura. Está aqui ela. (Mostra a garrafa térmica elétrica.) Essa é uma garrafa elétrica, é fabricada em Teutônia e Caxias do Sul. Ela tem o regulador de temperatura e tem termostato; quando chega a uma determinada temperatura, ela desliga automaticamente. Eu não vivo mais sem ela. Eu não vivo mais sem uma garrafa dessas, porque eu poupo tempo. Deixo-a ligada vinte e quatro horas na minha casa, é só ir completando a água, então eu sempre tenho o chimarrão na mesma temperatura. A outra coisa é a erva-mate: deve ser cuidada a data de fabricação e deve ser armazenada no freezer. E, gente, uma coisa muito importante: a melhor época de erva-mate é agora. Está passando a época da erva boa, porque está madura. Agora começa a brotação, a floração, depois vem a semente, e a flor e a semente são inimigas da qualidade da erva-mate.

O meu tempo já está esgotado, e vou preparar um chimarrão, porque o nosso slogan é: tão bom quanto tomar é saber fazer. Logo que entrei no Projeto, eu disse que isso tinha que mudar, porque todo mundo sabe fazer chimarrão. Pelas andanças, durante quatro anos, fomos todos os meses a São Paulo; atualmente, todos os meses de junho, trabalhamos em Brasília e também em Goiânia. A partir do ano que vem, vamos começar a ir a Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo, nas Lojas Carrefour. O Carrefour hoje é o patrocinador da Escola do Chimarrão, quero salientar isso. A Churrascaria Vento Haragano, de São Paulo, e o Carrefour de São Paulo são os patrocinadores da Escola do Chimarrão. Nós não temos nenhum patrocínio do Rio Grande do Sul.

Eu vou fazer agora um modelo de chimarrão para vocês, que é um modelo que eu gosto de fazer e é muito prático: o chimarrão de onze segundos. O chimarrão entope por três motivos básicos: primeiro, a bomba não é boa, e nós recomendamos bomba de aço inoxidável, nada de ouro e prata. “Ah, eu ganhei uma bomba de ouro e prata do meu bisavô, é linda.” Leva-a ao ourives, deixa-a limpinha, brilhosa, põe em uma caixinha de vidro, põe na estante e diz para todo mundo: “Olha a bomba que eu ganhei do meu avô.” Mas, para chimarrão, tem que ser bomba de aço inoxidável. E o segundo motivo, que é muito importante, excesso de erva na cuia, que é o grande problema. Se colocarmos muita erva na cuia, a água não chega no bojo da bomba, e o chimarrão vai entupir. O pó da erva pode entupir o chimarrão também, e toda erva tem pó. “Ah, eu só compro erva moída grossa para não entupir.” Não é o caso. Não é necessário, porque a erva moída grossa também tem pó. Ela pode entupir, sim, mas tem que cuidar na hora da sucção. E outra coisa, na hora de lavar, não limpar a cuia com a bomba, fazer uma concha com a mão e deixar correr água em sentido contrário. E sempre que lavar a cuia, devemos deixá-la deitada para escorrer a água, porque é a única forma de circular oxigênio dentro dela. Com relação à água, eu esqueci de falar: a água, quando ferve, não serve mais para chimarrão, tem que ser descartada para outra coisa, porque a água fervida perde o oxigênio e se torna uma água pesada, que vai lavar o chimarrão e não vai deixar aquele gosto saboroso do chimarrão.

 

(Aparte antirregimental da Verª Sofia Cavedon.)

 

O SR. PEDRO J. SCHWENGBER: Não adianta, porque a água que ficou lá vai prejudicar o gosto do chimarrão.

 

(Procede-se à aula de chimarrão.)

 

O SR. PEDRO J. SCHWENGBER: Além deste aspecto cultural da Escola do Chimarrão, do aspecto social, dessa magia da integração, também as propriedades medicinais, que são muito mais do que eu falei para vocês, é muito importante dizer que quem tiver o hábito do chimarrão, duas ou três vezes ao dia, não terá problema de colesterol, triglicerídios, ácido úrico ou glicemia. O Instituto de Cardiologia tem estudos, e a Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, por intermédio da Drª Rejane Giacomelli Tavares, fez experimentos em cobaias, constatando que diminui em 27% o colesterol e em 62% os triglicerídios. E ainda, no Brasil, quem mais estuda a erva-mate é o Dr. Edson Luiz da Silva, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Além disso - temos até 36 modelos de chimarrão, e convidamos vocês a fazer um “pit stop” na saída do Plenário -, temos um trabalho de prevenção às drogas. Está provado cientificamente que quem tem o hábito do chimarrão está menos propenso ao uso de drogas.

E nós estamos desenvolvendo atividades nas escolas, “mateando” nas escolas, porque a erva-mate tem a mateína, que é um estimulante. Este projeto fez com que a Polícia Federal, em parceria conosco, nos doasse um ônibus e participando conosco, uma coisa que nos orgulha muito. Fico à disposição de perguntas.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Convidamos para compor a Mesa o Sr. Pedro J. Schwengber, representante da Escola do Chimarrão.

O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sras Vereadoras, Srs. Vereadores, a tribuna ainda tem alguns vestígios da manifestação do nosso palestrante, que não só discorreu, com grande conhecimento de causa, a respeito da erva-mate e do chimarrão, como também deu algumas demonstrações práticas acerca de como proceder na preparação da cuia para que se tenha um chimarrão adequado, não com bombas que entopem, nem com desperdício, até mesmo, do material, porque a erva usada em excesso acaba caindo, e se perde grande parte de um produto que é precioso na cultura e na tradição gaúchas.

Quero cumprimentar a Presidência da Casa, que hoje coloca um tema que, aparentemente, seria até desajustado com as finalidades da Casa, mas que, em verdade, é um esclarecimento a mais que a totalidade deste sodalício obtém a respeito de uma coisa muito típica de nós, gaúchos, e da qual nós nos orgulhamos muito. Duvido que haja algum gaúcho que, num determinado momento da vida, não tenha tido uma cuia na mão e saboreado um chimarrão.

Todos dizem que a vida da Cidade, a vida dos “cola fina” é uma dificuldade a mais para que se tenha desenvolvido o hábito do chimarrão, “a cuia que vai de mão em mão”, como diz o poeta, e se observa que até com um especialista no preparo do chimarrão, ao movimentar o elemento que o compõe, a erva-mate, alguma coisa sempre cai, e, em determinados locais, não é adequado. Por muito tempo, aqui, vários colegas costumavam trazer a cuia de chimarrão e tomar mate durante o período em que participavam das Sessões; isso era considerado por alguns como uma atividade não muito adequada à rigidez ortodoxa do Regimento da Casa. Aliás, teve um Governador do Estado que chegou a proibir que tomassem chimarrão nas repartições públicas, dizendo que os deveres tinham que se sobrepor aos prazeres. Mas tudo isso não invalida; ao contrário, ressalta a importância do tema e, especialmente, da forma como foi tratado aqui na Casa, no dia de hoje, ou seja de uma forma não totalmente formal, mas com muito bom humor, com grande conhecimento de causa e, sobretudo, com uma boa dialética e com excelente pedagogia na exposição que aqui foi feita.

Eu não sou habitué do chimarrão. A minha família - até pelas minhas origens da campanha do Rio Grande do Sul - era consumista contumaz do chimarrão, tradicionalmente de manhã à noite consumiam chimarrão. Eu, perdido aqui na grande cidade, acabei não tendo esse hábito, mas tenho muito respeito a quem o prática e não gosto de ver, muitas vezes, se subestimar esse hábito como uma subcultura, quando, na verdade, é uma das melhores culturas, porque é montada na tradição e tem toda essa pedagogia que foi muito bem exposta aqui pelo nosso palestrante. Por isso quero cumprimentá-lo e dizer que o dia de hoje é muito especial aqui para nós, da Câmara Municipal de Vereadores, e que, certamente, o amigo haverá de ter muito sucesso na sua empreitada, porque tudo que é feito com convicção, com disposição, com responsabilidade, com conhecimento, dá resultado. Meus cumprimentos. Muito obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Aldacir José Oliboni está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ALDACIR JOSÉ OLIBONI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu estava conversando há pouco com o Sr. Pedro, que fez aqui essa bela explanação para todos nós. O Pedro é professor da Escola do Chimarrão, de Venâncio Aires. Ver. João Antonio Dib, estive em Santa Cruz e Venâncio Aires e pude conhecer lá o “Chimarródromo” em pleno espaço público, onde o cidadão que quer se utilizar da água quente, exatamente a 75 graus, abre a torneirinha e tem a água disponível para que possa ser utilizada - um grande exemplo para a cultura gaúcha.

Nós, aqui na Câmara - Ver. João Bosco Vaz, V. Exª também votou a favor -, aprovamos o chimarródromo em parques e praças, a exemplo do que o Pedro já fazia, há cinco ou seis anos, no Parque da Redenção. Quem trouxe essa novidade foi a Escola do Chimarrão de Venâncio Aires. E, num longo papo que tive, naquela época, com o Pedro, surgiu a ideia de implementarmos um Projeto de Lei aprovado aqui, e agora foi feita uma réplica com a Coca-Cola, no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Não é exatamente o ideal ou aquilo que queremos, porque o chimarródromo tem que ter disponível a erva, uma orientação de como fazer o chimarrão, como fez aqui o Pedro, e demonstrar que isso não se refere somente aos usos e costumes lá dos índios, há 500 anos. Afinal de contas, os índios, Verª Sofia, nos dão uma demonstração de lembrança, de quanto foi importante a cultura indígena - é importante -, porque também nos lembramos do massacre por parte dos portugueses de Pedro Álvares Cabral.

Ontem, eu me lembrei aqui da cultura indígena, quando aprovamos o Projeto que introduzia nas escolas a questão do holocausto. Por que não introduzir a história dos indígenas ou o massacre dos indígenas, como dizia, por telefone, um grande amigo meu, chamado Moisés? “É preciso rever muitos princípios, mas é muito importante rever certas culturas que toda a humanidade vai levar”. E essa questão do chimarrão, com certeza, Pedro, ficou e vai para a eternidade, porque, além de ser medicinal, como o Pedro falou aqui para nós, ela está, Ver. DJ Cassiá, na cultura gaúcha. Não é só o uso da bota, da bombacha, do lenço, mas qual é o piquete, aqui no Harmonia, neste período da Semana Farroupilha, que não tem um bom chimarrão para que os cidadãos possam conhecer um pouco da nossa cultura gaúcha?

Então, acho que foi muito oportuno o Pedro estar aqui não só para dizer para nós da importância que tem a Escola do Chimarrão de Venâncio Aires, mas o que ele faz pelo mundo. Quem não viu já o Pedro, em pleno verão, nas praias do Rio Grande do Sul, ensinando o povo a fazer o chimarrão e também a tomar o chimarrão e, mais do que isso, salientando a importância e a quebra desse paradigma de dizerem que o chimarrão faz mal à saúde; pelo contrário, faz bem à saúde, e foi provado aqui pelo Sr. Pedro. E há alguns princípios, é claro, por exemplo, a questão de a água não ser fervida, ter até 75 graus, e trouxe aqui uma novidade, uma garrafa térmica com termostato, Ver. Comassetto, que permite - ao chegar aos 75 graus - que a água permaneça com essa temperatura.

Então, quero agradecer e dizer que aguardamos que o nosso Governo Municipal implemente a Lei aprovada por esta Casa. Quem sabe todos os parques da Cidade, praças, tenham a possibilidade de fazer uma parceria com empresas da iniciativa privada. O Pedro trouxe a ideia aqui de uma garrafa térmica, na qual eles que podem fazer a sua propaganda, disponibilizando esta tecnologia para que a água não seja fervida, que se mantenha nos 75 graus. Eu gostaria muito que as ervateiras fizessem esse papel, porque elas são as principais interessadas em fazer com o cidadão receba, além da água quente, erva-mate, porque é através da qualidade da erva-mate que podemos dizer que o mate ou o chimarrão é saúde e é importante para todos nós, gaúchos e brasileiros. Muito obrigado. Parabéns, Sr. Pedro! Vida longa.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Ver. Engenheiro Comassetto está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ENGENHEIRO COMASSETTO: Sr. Presidente, Ver. Nelcir Tessaro; Srs. Vereadores e Sras Vereadoras; senhoras e senhores; nosso convidado Pedro, que nos deu uma aula sobre a essência da erva-mate e sobre como preparar o chimarrão, o nosso abraço. Digo que a sua exposição aqui nos remete a uma reflexão sobre a importância que tem o chimarrão para a nossa identidade cultural, a do gaúcho como um todo: o gaúcho brasileiro, o gaúcho uruguaio e o gaúcho argentino. Os três têm o hábito de tomar chimarrão com características diferenciadas. A nossa erva é moída com o talo, com o pauzinho; os uruguaios gostam mais da erva com a folha, e assim por diante. Bom, o primeiro ponto é essa afirmação cultural. Pelo Brasil, onde se anda, quem anda com uma cuia é imediatamente identificado como gaúcho. Então, podemos dizer que o chimarrão é uma indumentária que nos dá o passaporte de identidade, por onde andamos, da cultura do gaúcho. Ele tem essa importância, sim, e difundi-la no mundo é extremamente importante. Nesse sentido, os nossos cumprimentos pelo trabalho que vocês vêm fazendo com a Escola do Chimarrão. E toda vez em que se trabalha em termos educativos e que se constitui uma entidade com o caráter de educar, de ensinar, de manter a cultura e disseminá-la, é extremamente importante, porque é um aporte de formação cultural e turística. E neste veio da cultura e do turismo, creio que nós deveríamos aqui não só dar todo o apoio, mas também inserir, no caso do Município, que é o nosso caso, da Câmara Municipal de Porto Alegre, onde legislamos sobre o território de Porto Alegre, o fortalecimento do chimarrão na sua identidade, como capital dos gaúchos. Estou aqui meditando a partir da sua exposição.

O segundo eixo sobre o chimarrão diz respeito às suas características, suas qualidades medicinais e ao leque de componentes químicos naturais que a erva-mate possui. Eu fiquei impressionado, não sabia, sob o ponto de vista dos estudos: quem mais estuda a nossa planta ilex paraguariensis, ou erva-mate, não são os brasileiros. E aqui, em Porto Alegre, nós temos grandes laboratórios nas universidades, tanto da Universidade Federal, como a PUC, Unisinos, Feevale e assim por diante. Por que não nós organizarmos uma campanha para que os nossos cientistas gaúchos - botânicos, médicos, farmacêuticos - possam aprofundar esse estudo que os outros povos, assim como os franceses e os suíços e outros que o senhor citou, os americanos, têm realizado sobre a erva-mate, para poder difundi-la no mundo como um componente de qualidade medicinal, junto com o hábito alimentar, promovendo que os nossos institutos de pesquisa se dediquem ao tema erva-mate. Pela sua exposição, e me pauto dela, noto que não tem grande importância, aqui, na nossa indústria farmacêutica, botânica, e assim por diante, como tem em outros países, e o senhor citou a França. Portanto, eu acho que - e é outro viés - nós poderíamos, Sr. Presidente, enviar uma mensagem oficial desta Casa às universidades do Rio Grande do Sul, enviando, por exemplo, as notas taquigráficas deste evento, pedindo um envolvimento, buscando uma interlocução. Nada se impõe; se conquista. Temos que conquistar relações através do diálogo.

Portanto, eu acho que é uma tarefa que a Câmara poderia fazer; a partir da visita, Pedro, que nós pudéssemos fazer um laço com os nossos institutos de pesquisas de botânica, de farmácia, de medicina, porque hoje há muitos recursos para pesquisas, do Governo Federal, para as universidades. São feitas muitas pesquisas que acabam ficando nas gavetas. Talvez se possa mandar para o Finep também uma motivação da pesquisa sobre a erva-mate.

Portanto, os meus cumprimentos. Quero dizer que, a respeito do Projeto que nós aprovamos, do Ver. Aldacir Oliboni, o Projeto do Chimarródromo, possa o Poder Público executá-lo e colocar em todas as praças a estrutura, e aí a parceria com a iniciativa privada. Não tenho dúvida nenhuma de que as ervateiras abraçariam isso com muita força para promover a venda do seu produto, a erva-mate, em todos os cantos por onde andar a cultura do gaúcho. Um grande abraço! Muito obrigado.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): A Verª Sofia Cavedon está com a palavra em Comunicações.

 

A SRA. SOFIA CAVEDON: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras Vereadoras; Sr. Pedro, da Escola do Chimarrão, eu quero lhe dar as boas-vindas. Eu venho falar motivada, na verdade, mobilizada, Ver. DJ, por uma paixão, porque eu sou apaixonada por chimarrão, talvez viciada - talvez seja um vício, até algo a discutir. Eu creio que, da nossa cultura, talvez esse seja o bem material mais precioso, Verª Fernanda, com quem discuto tanto essa questão da preservação. E há uma música que diz que quem toma chimarrão nunca está sozinho, porque o mate é uma grande companhia, é uma companhia quente, é algo que tu bebes e sabes que não está engordando, tonteando, nem adoecendo; ele está te acompanhando e tem sabor.

Então, essa cultura herdada dos indígenas - acho que essa é a primeira questão - é supersaudável; ela tem um sentido muito legal de aproximar as pessoas, de aconchegá-las, de juntá-las, de compartilhar. Qual é a outra bebida que se usa a mesma embocadura para passar para o outro e ninguém tem nojo? A gente preserva, cultua isso! Eu acho que a gente tem uma dívida enorme com o povo indígena, e ela passa também - e aí eu quero parabenizá-lo, Pedro - por não trabalhar a cultura do chimarrão mais fortemente como um dos legados do povo indígena. Essa cultura do índio foi dizimada, mas agora ela ainda continua desvalorizada! Nós até temos uma sociedade que recupera os seus indígenas, começa a demarcar áreas, mas a sua cultura é considerada primária, as pessoas dizem: “que bonitinho”, mas não tem o valor que o chimarrão expressa tão bem, que é o valor de usar a natureza de uma forma saudável e inteligente para unir, para viver em harmonia.

Quero fazer esse registro e dizer que uma das coisas que me emocionam, Ver. Dib, é ver um guri, tipo o meu filho, de dezoito anos, pegar o chimarrão e convidar a namorada para ir para a praça, ou tu passares na praça e ver grupo de jovens, aqui na Redenção e em vários lugares, sentados no chão, aos sábados à tarde, tomando chimarrão. Via de regra, é tomando cerveja, fazendo a tal da mistura da coca-cola com isso ou com aquilo, que é bom em determinados momentos, mas em determinados momentos e em determinada dose. Agora, os jovens aprenderem, desde pequenos, com os pais, a cultuar essa bebida, a fazerem dessa bebida um momento de encontro, ser uma desculpa para reunir os amigos, uma forma de estar junto com os amigos, é muito bom para a nossa sociedade, para a sociedade que a gente deseja.

Por fim, eu quero contar um exemplo para vocês de quando eu estava no Chile, no ano passado, e estava com uma saudade do chimarrão, porque eu não aguento a erva argentina nem a uruguaia, porque elas são muito amargas. E no Chile, Ver. Bosco, existe um centro cultural em que tu chegas, sentas e podes comprar um chimarrão, tomar o chimarrão; tu pagas um tanto, muito pouquinho, e eles te servem com uma térmica pequena, quente, em uma espécie de xícara. Tu sentas com a tua companhia e tomas várias doses de mate; pagas e devolves o equipamento. Eu não sei se temos isso aqui no Rio Grande do Sul; agora, deveríamos ter essa possibilidade, porque o chimarrão é um elemento fundamental de atração turística, de experimentação da nossa cultura. Eu, sempre que viajo, quero saber o que aquele povo come, o que ele tem por hábito, e acho que nós devemos prestigiar o chimarrão como um importante elemento de turismo cultural, de identidade.

Então está de parabéns a Escola do Chimarrão, e olha não fala aqui alguém que cultua a nossa cultura tradicionalista; eu falo, porque esse, sim, é um elemento que se incorporou à vida de todos os gaúchos e é muito saudável, muito bom para todos nós. Parabéns. Obrigada.

 

(Não revisado pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): O Sr. Pedro J. Schwengber está com a palavra, para suas considerações finais.

 

O SR. PEDRO J. SCHWENGBER: Eu quero agradecer a todos os que se manifestaram, Vereadores Pujol, Oliboni, Comassetto e Sofia. Quero dizer que é lógico que nós temos mais informações do que as passamos aqui a vocês, só que o nosso tempo é muito curto. Outro dia, nós estávamos em uma palestra de duas horas, e uma pessoa estava assistindo pela segunda vez, e ela disse que parecia que não havia assistido a primeira. São muitas informações que nós procuramos compilar e trazer às pessoas.

Eu quero fazer uma consideração, por exemplo, ao Governo que proibiu o chimarrão. Nós temos o caso do Município de Lajeado, que proibiu, na Prefeitura, o chimarrão. Outro dia, eu fui entrevistado pelo jornal O Estado de São Paulo a respeito disso e me manifestei dizendo que o chimarrão não atrapalha; se o chimarrão estava atrapalhando o atendimento ao público, sem chimarrão seria pior, porque o chimarrão é um estimulante, ele anima mais as pessoas, que interagem mais.

Com relação ao que manifestou o Ver. Oliboni, ao Chimarródromo, a ideia é muito boa, mas a prática não é muito fácil, nós temos essa experiência, know-how de muitos anos, e a coisa não é fácil, não, para persistir nisso. O Ver. Comassetto falou que as ervateiras teriam interesse. Gente, eu falei que somos patrocinados pela Vento Haragano, de São Paulo; pelo Carrefour de São Paulo, e temos uma outra empresa de São Paulo, com a qual estamos negociando o patrocínio. Nós não temos patrocínio de ninguém aqui.

As ervateiras fazem questão de fornecer a erva para a Escola do Chimarrão, porque, hoje, já passamos a ser um termômetro de qualidade. Se a Escola do Chimarrão está usando a erva tal é porque deve ser de boa qualidade. Então eles fazem questão disso; agora, quando começamos a precisar de combustível para o ônibus, de dinheiro para pagar a conta da água, luz e telefone, já não encontramos ninguém disponível para nos ajudar nisso.

Sobre o aspecto social, como falou a Verª Sofia, mesmo quando estamos sozinhos, o chimarrão é um companheiro que, mesmo calado, responde a todas as nossas perguntas.

Nós continuamos à disposição de todos vocês no nosso site Escola do Chimarrão; por e-mail também, para dirimir qualquer dúvida e dar as informações necessárias.

Ao me despedir, agradeço mais uma vez o convite, e quero dizer que fiquei muito contente com o convite feito. Até fiz um esforço danado para estar aqui, porque, durante o mês de setembro, tivemos de abrir mão de 76 convites recebidos para participarmos de eventos. A nossa agenda está bastante comprometida, mas a felicidade de receber o convite da Câmara de Vereadores de Porto Alegre foi muito grande. Eu saio daqui muito honrado por ter estado neste ambiente.

Obrigado, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras Vereadoras.

 

(Não revisado pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Nós agradecemos ao Sr. Pedro Schwengber, nosso palestrante de hoje, que nos proporcionou o resgate de hábitos considerados bens patrimoniais dos gaúchos, cadeia produtiva e valorização simbólica de produtos cultivados no Rio Grande do Sul.

 

O SR. JOÃO BOSCO VAZ (Requerimento): Solicito que seja feita verificação de quórum.

 

O SR. PRESIDENTE (Nelcir Tessaro): Solicito abertura do painel eletrônico para verificação de quórum, solicitada pelo Ver. João Bosco Vaz. (Pausa.) (Após o fechamento do painel eletrônico.) Dez Vereadores presentes. Não há quórum.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 15h17min.)

 

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